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"...e a vida segue, com o tempo nos calcanhares da esperança..." (E tudo passou - 20/03/2012)

segunda-feira, 15 de março de 2010

Flores da eternidade


"...ele nunca lhe mandou flores,
aquele dia seria o primeiro que lhe diria de seu amor,de sua paixão,
passaram horas desde a primeira vez que tentou lhe contar o que sentia,
era primavera,
fugiu da chuva,
protegeu-se da tempestade,
e viu que ela chegava,
esperou o momento certo, atravessou a rua,
aproximou-se dela e lhe disse:
- Para você, queria lhe mostrar o que sinto através destas flores, espero que goste...


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Chegando em casa, ela contou a sua mãe que havia conhecido alguém,
e que achava que ele estava apaixonado por ela,
e a abraçando com força, sua mãe a beijou...
- Como sabes que é paixão? Pode ser apenas amor, e pode passar rapidamente, hoje é algo bom, daqui a pouco se torna algo triste, te perdes, e percebes que tudo foi em vão, bobagens de um coração perdido....um momento de felicidade, pode ser tão forte, ele pode te fazer tão feliz, que achas que é algo único, mas podes estar carente só pela amizade dele, e isso já é suficiente para te emocionar, amores são fortes como uma tempestade, vem prá derrubar tudo o que encontrar dentro de ti...

Ela ergueu sua cabeça, pensou, e foi ao banho...

Enquanto isso, ele planejava o outro dia,
sua nova tentativa de se aproximar dela.

Chegou em casa, contou ao seu pai o que acontecera, o que sentia, que queria dizer a ela que a amava, e ouviu atento tudo o que seu pai lhe dizia:
- Como sabes que é amor? Pode ser bem mais forte, e não passar tão rapidamente, hoje é algo simples, daqui a pouco se torna algo triste, tu te perdes, e percebes que tudo foi em vão, bobagens de um coração partido,....

O tempo passou, cresceram,
ele, do menino, homem se fez,
ela, já mulher, deixou aquela menina perdida para trás,...

Cada um seguiu seu rumo, ele procurava encontrar explicação para aquele sentimento que o acompanhava, desde aquele primeiro dia de aula na infância. Lembrava como se fosse naquele instante, quando entrou na sala e viu aquela menininha sentada na frente da aula, a sala quase vazia, cadeiras vazias a sua volta, ele olhou prá ela, mas por medo daquele olhar triste, surpreso, sentou no fundo da aula, e de lá passou toda aquela manhã admirando-a...
Guardava todos os dias daquele período na memória,...

Passou um ano sozinho no fundo da sala, crianças sentavam ao lado da menina, e ele, sem coragem, permanecia sem saber o que acontecia dentro de seu pequeno e triste coração...

Trocou no outro ano de colégio, seu pai precisava trabalhar em outro bairro, e ele ficou triste, mas aceitou, não tinha coragem de dizer nada à pequena menina, e por achar que passaria o que sentia, se acostumou, mas....

Em seu primeiro dia de aula, surpreendeu-se com ela no mesmo colégio dele, ela precisou mudar-se também, e por sorte dele foi estudar no mesmo colégio, só não estavam mais na mesma sala, só no mesmo corredor, e ele, quando podia, saia da aula e passava na sala dela, parava, olhava no vidro e a via ali, bem na frente da turma, sempre, desde pequena ela sentia vontade de ultrapassar a todos, e de ficar na frente de todas as impossibilidades,...

Ele não sabia, mas ela ao nascer passou por duas cirurgias, fez muitos exames e permaneceu dois meses no hospital, até o dia em que conseguiu ir para casa.
Sua chegada em casa foi de muita alegria, todos a esperavam e desde aquele dia em que viu todos aqueles a sua volta chorando, aprendeu a emocionar-se com facilidade,...

Estudaram aqueles anos juntos, sempre em salas separadas, moravam perto também, eram duas quadras de distância da casa dele, e ele que passava em frente a sua casa todos os dias, algumas vezes a via na frente, pensava em chegar, mas desistia, teve uma infância difícil, sua mãe chorava escondido dele, pensando que ele não a via, seu pai era muito triste também, e todos, quando tinham um problema em sua casa, não conseguiam dividir entre eles...

Ele sagitário, ela leonina....
Ele inseguro, solitário,
ela firme, forte, de pensamentos bons.
Ele pensava nela o dia inteiro, e muitas das vezes vinham em sua mente pensamentos ruins, e ele quase desacreditava em seu amor,...
Ela não sabia, mas já o amava, mesmo sem saber...

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Seu pai vendo aquele olhar triste sem conseguir almoçar, sem saber o que fazer, pensou que eram muito pequenos, poderia ser algo simples, sem sentido, crianças nem sabem o que é gostar, pensava ele,...
mas é pequeno, coitado, tá desolado, cabisbaixo, chateado,....
e resolveu ir com ele no outro dia à aula...
- filho, vou levar você amanhã, e vamos pensar juntos em algo a fazer para conquistar essa menina, só lhe aviso,(baixou e pela primeira vez olhou dentro dos olhos do menino) - lhe aviso meu filho, vou ajudar a entender o que você está sentindo, mas preciso que entenda que ela lhe fará muito melhor, ou pior do que está agora, e esse seu primeiro amor, pode ser o mais difícil, vai se machucar, terá de ser forte, muito forte mesmo, você vai continuar com isso, ou posso desistir e não me preocupar com você? Não sei como ajudar, mas podemos tentar juntos, o que você quer fazer?

Ele, 11 anos, tinha em sua resposta a certeza de que devia continuar a lutar:
- aguento, prometo,...

Ele sorria, pulava, vibrava, e assim passou a noite pensando nela, e pela manhã, seu pai o levou ao colégio, conheceu a tal menina, e pediu que ele sempre cuidasse todos os passos dela de longe, que não a perdesse nunca de vista, e que sempre a seguisse quando ela soltasse, para protege-la....

Seu pai dizia isso, pois via no menino algo ingênuo, sem sentido, eram pequenos, nem sabiam o que era amar....

Não sabia ele, que Julian sabia o que queria, e durante todo o tempo em que estudou perto dela a protegeu, à distância, do jeito dele, mas a protegeu...

Certa manhã, passou em sua sala e ela não estava, foi ao jardim, e a encontrou, sentou num banco perto dela e viu que ela estava triste, muito triste, pensou em não fazer nada e só ficar ali, mas veio de repente uma vontade de abraçá-la, de tocá-la, ele levantou, respirou, criou coragem e foi em direção à Melany,...

Ela levantou também, veio em sua direção, cabeça baixa,talvez chorando, ele não sabia, e, assustado, não conseguiu falar com ela,..... e ela passou por ele, e se foi.....

Contou a seu pai o que acontecera, e seu pai, por perceber que ele não tinha coragem nenhuma, desistiu de ajudar-lhe:
- Não faço mais nada por você, se você deixou ela passar e não disse nada a ela, não é amor, faltou coragem, quem ama não tem medo, substitui ele pela força de vontade e deixa que o coração faça o resto...Eu desisto meu filho, agora é com você...

Teve mais duas oportunidades, uma em que esteve sozinho com ela na biblioteca e nada, outra na festa de final daquele ano, como todos já sabiam que ele gostava dela, os aproximaram, mas ele não teve coragem de chegar perto dela, não tinha a coragem necessária para dizer que precisava de seu abraço, ele imaginava que poderia perder o pouco que tinha dela, caso ela dissesse não...
A festa acabou, e ela no outro ano mudou de colégio....

Alguns anos se passaram, ele ficou um longo tempo passando em frente à casa dela, nunca chegava, e quando a via, baixava a cabeça e ia embora...

Um dia sua mãe chegou em casa, procurando por ele:
- Julian, onde você está? Melany vai embora, sua mãe contou à vizinha da esquina, a vizinha da esquina contou ao dono da farmácia, e ele está contando a todos que a casa está à venda...
- Deixa que vá, mãe, é até melhor, nunca terei coragem de confessar à ela o que sinto,....
- Se prefere assim, tudo bem, só não esqueça que pode ser a sua última chance, pelo que entendi ela vai embora prá longe, e talvez você não tenha percebido, mas ela sabe que você gosta dela, nós, mulheres sabemos de muitas coisas que você ainda nem imagina....

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E Julian que nunca nunca tinha mandado flores,
aquele dia resolveu que seria o primeiro que lhe diria de seu amor,de sua paixão,
passaram horas desde a primeira vez que tentou lhe contar o que sentia,
era primavera,
fugiu da chuva,
protegeu-se da tempestade,
e viu que ela chegava,
esperou o momento certo, atravessou a rua,
aproximou-se e tremendo disse:
- Para você, queria lhe mostrar o que sinto através destas flores, espero que goste...


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- E ela aceitou? Perguntou um convidado lá no fundo da igreja.....

- Aceitou sim, e daqui a pouco vocês verão minha mãe entrando por aquela porta, para celebrar com meu pai, pois hoje, fazem 50 anos que ele perdeu o medo de amar, e disse a ela o que sentia, e aqui estamos nós celebrando esse amor...




Meu pai, morreu cinco anos depois,

Minha mãe, tem 85 anos, e todas as manhãs pede que eu conte essa história a ela, para lembrar de tudo o que viveu...

E para que eu nunca esqueça, que é preciso ter coragem para amar de verdade...


"sem amor, não existiria essa história,
sem essa história, não o amor..."




F I M

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