Memórias de uma saudade

"hoje te deixei ir mais cedo aos teus sonhos,
não imaginava o quanto ia te precisar,
era tarde,
tive vontade de chegar até tua casa,
abrir tua janela,
entrar,
te encontrar dormindo,
repousando,
sonhando,
admirar-te,
te acordar,
te olhar,
te tocar,
te pegar em meus braços,
te admirar,
te levar na janela,
mostrar as estrelas,
conduzir teus olhos ainda dormindo até a lua,
ver brilhar teus segredos e sonhos,
te pegar com força,
te abraçar prá te proteger do frio,
tocar tua boca,
oferecer meu braço, pra ti deitar,
e aproveitarmos a madrugada,
com seu encanto e desespero.
Aproveitaria tua emoção,
e te contaria minhas estórias,
pra te encantar com sorrisos e lágrimas,...

depois de te despertar,
te pegava pela mão,
escolhia uma música boa,
que tocasse nosso coração,
como nos tocou o amor,

dançaríamos a dança do tempo,

e entre verdades e segredos,
seríamos dois apaixonados numa madrugada quase vazia,
seríamos, se fosse verdade,
a poesia que o poeta ainda não se atreveu a escrever,
a história que o historiador não compreendeu,
a carta que aguarda pra ser enviada,
seríamos, se fosse assim verdade,
as palavras que ainda não te dediquei,
o livro que ainda não se editou,
o disco que ainda não se ouviu,...

e aí, quando já sem forças te entregasses a mim,
ia te pegar no colo,
te beijar demoradamente,
te levaria de volta a tua cama,
te tocaria o rosto,
te cheirava o pescoço,
deitava em teu peito,
ouvia teu coração batendo,
cheirava teu respirar,
deitava ao teu lado,
sorria,

aguardava o amanhecer,
beijava tua mão,
teu ombro,
beijava teu pescoço,
encostava em tua orelha,

te arrepiava,

te beijava mais uma última vez,
tocava tua boca,
ia ao teu jardim,
colhia as flores mais bonitas que existissem ali,
deixava ao teu lado,
mordia teu queixo,
murmurava um adeus inesquecível em teu ouvido,
abria tua janela para os primeiros raios da manhã invadir teu corpo,
fazia meu caminho de volta,
agradecendo á lua, e ás estrelas,...

e daqui da minha janela,
te precisando,
ficava a te esperar,
quem sabe prá daqui a pouco,
ou talvez quem sabe um dia,
quando nosso amor se descobrir em nós mesmos,
e nos deixar vivê-lo,
senti-lo,

fazendo do nosso começo: palavras
de nosso dia a dia: esperança
e de nossas cumplicidades:
eternidade..."