Seja feliz

"...e a vida segue, com o tempo nos calcanhares da esperança..." (E tudo passou - 20/03/2012)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O homem que não sabia chorar



“ele acordou cedo naquele dia, disposto a esquecer tudo,
já não era mais primavera,
seus olhos úmidos lhe mostravam que a noite ainda não tinha acabado,
trazia dentro de si, daquela madrugada triste,
piedade,
esperança,
amor...
entendia-se,
era difícil entender algumas coisas que aconteciam ao seu redor,
era fácil saber mudar, mas não conseguia mudar o tempo,
nem apagar de sua memória as lembranças de um passado não muito distante.
Ele foi até a janela, espreguiçou-se,
abriu as cortinas,
abriu a janela,

ouviu o som de um violino, vindo de algum lugar...
e arrepiado,
quase chorou, mas não conseguiu...



Ele ficou ali ouvindo aquele bonito e emocionante som,
não queria pensar,
só esquecer daquela madrugada passada,
só isso lhe importava naquele momento...
Ele foi ao banheiro,
fez a barba,
emocionou-se com a música que invadira seu quarto,

e emocionado, tentou chorar, mas não conseguiu,...

Tomou um banho demorado,
foi até o armário,
escolheu a melhor roupa para aquele dia,
perfumou-se,
olhou-se no espelho,
e colocou a mão no bolso da calça,
encontrando um pedacinho de papel escrito: “Nunca esquece que te amo”,
ele pensou naquele instante,
em como tudo tinha acontecido tão rapidamente e tão demorado também,
naqueles segundos passaram as memórias de uma vida inteira em sua cabeça,
seus erros,
seus objetivos,
seus anseios,
suas mágoas,
seus medos,
sua coragem e covardia,
viu a importância daquela mulher em sua vida,

e emocionado,
novamente tentou chorar,
mas não conseguiu...


Foi guardar o bilhete em uma gaveta,
e encontrou velhas cartas,
rasgou papéis velhos, que marcavam sua vida.
Ele então abriu uma caixa,
e foi colocando, um a um, os papéis que encontrava, cuidadosamente,
alguns empoeirados,
outros com o cheiro daquele caderno de poesias,
que ele tanto cuidava naquele passado,
e que agora, por desinteresse, estava jogado num canto daquela gaveta,

ele tentou chorar por um momento, mas as lágrimas não vinham...


Pensava em rasgar tudo,
jogar no lixo,
queimar aquele monte de papéis velhos,
palavras escritas de um coração partido,
não queria mais olhar nada daquilo em sua frente,
nem queria ter tão presente dentro de si, algo tão forte, marcante,
mas não conseguia jogar aquilo pra longe de si mesmo,
era seu,
e mesmo tentando evitar mexer naquela gaveta,
sabia que continuariam ali suas memórias e suas palavras,
após guardar tudo, fechou a caixa,
pegou as chaves do carro,
e partiu.....
Parou para comprar flores,
escolheu as mais bonitas,
foi à maternidade de um hospital,
entrou, perguntou onde estavam Sophie, e seu recém nascido Kaio,
e chegando no quarto, e vendo que Sophie estava adormecida,
pegou aquela caixa e deixou ao seu lado,
deu um beijo em sua testa,
e foi ao local onde estava o menino, que também dormia,
o admirou por longos segundos,
e quando foi largar próximo de seu berço as flores,
Kaio acordou, olhou para ele e sorriu, continuando a dormir,

e ele mais do que emocionado, finalmente chorou....

Beijou a testa do menino e saiu...

Entrou no carro,
feliz,
e seguiu seu destino.

Chegou à igreja,
abriu a porta do carro, aliviado,
como nunca tinha se sentido antes,
desceu,
olhou para a menininha que o aguardava,
sorriu,
baixou até ela e disse baixinho:
- Agora, já posso tentar te fazer feliz, e nunca esquece que “Te amo muito também”.


Ele deixou ela ali, com sua avó,
sorriu pra ela,
entrou naquela igreja,
e em seguida, casou com a mãe dela,
e tentou, mesmo que impossivelmente ser feliz também.


Depois daquela manhã, passou a sorrir mais,
a chorar mais,
(era forte, mas descobriu que poderia ser humano também),
e viveu longos anos,
apaixonou-se todos os dias por aquela mesma mulher,
por sua filha e as fez feliz...


Depois daquela manhã,
acordou-se sempre naquele mesmo horário,
levantava-se sempre com o mesmo pensamento,
abria a janela,
mas nunca mais ouviu o som daquele violino...”


F I M





Para Kaio,

por sua vida,

sua história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário