"Agora a pouco te percebi triste,
pensei em acordar você,
mas preferi deixar você dormindo,
acordará cedo,
o caminho é longo,
e longa é a viagem...
Acabo de levantar,
vim na janela,
a abri...
olhei o sol chegando..
fiquei segundos olhando você dormir...
peguei o violino que você tanto gosta,
mas não tinha percebido, que ainda está sem cordas....
cheguei na beira da cama,
olhei voce sorrindo,
imaginei que seu sonhar deve estar alegre...
senti seu respirar,
a beijei,
e saí...
Na rua,
notei que nosso jardim está vazio...
não sei se você percebeu, (mas plantas morrem de sede no quintal de nossa casa...)
fechei o portão...
chamei nosso cão,
ele não me veio como vinha antes...
saí na rua...
notei que a janela de nosso quarto, que eu abrira ao acordar
agora encontrava-se fechada...
talvez você a tenha fechado....
o frio na rua é intenso,
carros vão e vem..
pessoas nem se notam...
como voce já me notou um dia...
Nesse segundo,
pelo que sei,
despertou o relógio,
acordando voce mais uma vez...
então sentei na calçada.....
os carros pararam de passar...
você veio no portão,
o abriu...
olhou para todos os lados...
foi na caixa do correio....
em vão, a abriu....
e mais uma vez, pra meu desespero..
entrou para dentro de casa novamente....
trancando-se na saudade que só me aprisiona em seus pensamentos...
me pergunto a cada segundo que me percebo em você:
- quando você entenderá?
as horas passam lentamente...
pessoas chegam e saem de nossa casa..
nosso cachorro late
e late,
late
e late,
em vão....
o noto na porta, entristecido,
a saudade até nele faz sentido....
Agora já é tarde,
vejo que já vai anoitecer...
você fecha as janelas,
fecha a porta...
toma seu demorado banho,
preparasse para mais uma noite de sonhos e mais sonhos...
Deixo você deitar,
deixo você adormecer...
entro em seus sonhos...
a conduzo a um lindo campo de belas magnólias....
estico meus braços,
não a sinto....
e finalmente, decido fazer algo que jamais esperava fazer...
...direciono seu sonhar para o campo de batalhas,
deixo você perceber que não estou só....
ao meu lado, alguns amigos sorriem...
outros escrevem como eu,
cartas para as pessoas que mais amam,
cartas, que nem sabemos, nem sabíamos, se chegaria...
então vem o meu comandante..
manda que paremos tudo...
para nos arrumamos e partimos para mais uma missão...
que desta vez será movida pela sensível amargura do entardecer...
vencemos com grande força a primeira parte da batalha....
e ao descansarmos,
fomos pegos por aviões do inimigo...
uma bomba voou em nossa direção....
atingindo meu grande amigo irlandês que nos ajudava por aqui...
corremos em desespero...
corremos....
corremos......
e .......
Nesse momento,
sinto suas lágrimas na carta que lhe é entregue pelo oficial responsável...
que responsavelmente lhe diz:
- Lamentamos, mas se lhe serve de consolo,
ele foi um grande soldado.....
e lhe mandou essa carta.....
Na carta que você deve estar lendo nesse momento,
descrevi só os momentos bons,
só o que realmente iluminará tua memória...
a sinto tomando aquele demorado banho de chuva...
...nos veremos sempre,
eu em você,
você em mim...."
...............................
1 ano depois...
Ela acordou cedo,
já havia arrumado na noite anterior tudo o que lhe fazia lembrar dele,
abriu com cuidado pela última vez a janela do quarto,
tocou um pouco no violino,
que agora com cordas, lhe emocionava o coração,
abriu a porta do quarto,
respirou fundo,
fechou a porta sem olhar pra trás,
fechou as janelas da casa,
pegou sua chave,
as malas,
e partiu....
Ela só não sabia, que o destino lhe preparava algumas surpresas....
(continua...)